Catulo da Paixão Cearense.
Encontrando-me com um sertanejo,
Perto de um pé de maracujá,
eu lhe perguntei:
Diga-me caro sertanejo,
Por que razão nasce branca e roxa
A flor do maracujá?
II
Ah, pois então eu lhe conto,
A estória que ouvi contá,
A razão porque nasce branca e roxa,
A frô do maracujá.
Maracujá já foi branco,
Eu posso até lhe jurá,
Mais branco que a claridade,
Mais branco do que o luá.
III
Quando as frô brotava nele,
Lá pros cunfins do sertão,
Maracujá parecia,
um ninho de algodão.
Mas um dia, há muito tempo´
Num meis que inté num mi lembro,
Si foi maio, si foi junho,
Si foi janeiro ou dezembro.
IV
Nosso sinhô Jesus Cristo,
Foi condenado a morrê,
Numa cruis crucificado,
longe daqui como o quê,
Pregaro Cristo a martelo,
E ao vê tamanha crueza,
A natureza inteirinha
pois-se a chorá de tristeza.
V
Chorava os campu,
as foias, as ribeira,
Sabiá também chorava,
nos gaio da laranjeira,
E havia junto da cruis,
Um pé de maracujá,
Carregadinho de frô,
Aos pés de nosso sinhô.
VI
I o sangue de Jesus Cristo,
Sangue pisado di dô,
Nus pé du maracujá,
tingia todas as frô,
Eis aqui seu moço,
A estória que eu vi contá,
A razão porque nasce
branca e roxa,
A frô do maracujá.
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