Certo dia, ao participar de uma entrevista num programa na Rede Imaculada, declamei uma poesia que gosto muito e que decorei lá pelos anos sessenta.
Confesso que nunca vi a obra original. Por isso, peço mil desculpas à autora ou autores se faltar alguma parte da mesma.
Agradeço ao bom Deus por ter chegado a mim essa poesia tão emocionante, que agora compartilho neste meu blogger. Veja-a agora:
Por Deus E Pela Pátria
Gabriela Mistral
Era o cair da tarde de um lindo verão!
Do sol no firmamento, se escondia o clarão.
Uma matrona esbelta, ao lado de um mancebo,
Sentada num rochedo, a contemplar do mar a amplidão.
Era seu filho moço e Henrique se chamava,
Que por um ideal sublime suspirava.
-Henrique, dizia-lhe a mãe bondosa,
Eu quero tua alma tão pura e graciosa
Como as gaivotas que voam.
Eu quero como os lírios teu coração,
Pra vê se Deus te chama ao santo ministério,
À santa vocação.
-Eu? Responde resoluto o filho.
Ó mãe recebe o meu segredo:
Eu quero como muitos, voar pela amplidão
E os grandes espaços cortar num avião.
Da mãe fica o coração partido,
Da frase resoluta do filho destemido.
-Henrique, o que? Aviador serás?
E o meu nobre castelo aqui acabará?
Quisera ver-te um dia ministro do Senhor,
Ministro do altar.
E diz Henrique com os olhos para o céu,
Espero que se rasgue do futuro o véu.
Ouve o grito da Pátria em grande dor,
Suplica do filho o braço defensor.
O som horrível da metralha ardente,
Quebrando o ar, amedrontando a gente.
Quero salvá-la ó mãe querida!
Por ela vou oferecer a minha própria vida.
E ela, a matrona, enxuga em sua face,
A lágrima sentida, a lágrima que lhe nasce.
E diz em êxtase, sufocando um ai,
Meu filho Henrique, é pela pátria vai.
Abençoou e o deixou partir,
Sem que da dor mostrasse o seu sentir, partiu
E nunca mais voltou naquela serra de onde ele voou.
Passaram-se anos...a França triunfante,
O espírito canta em coro deslumbrante!
Mas de Henrique, quem lhe dera nova,
E de sua vida a mais pequena prova?
Vai um dia cansada de esperar,
Sentar-se no rochedo a contemplar o mar.
Vê surgir um par de asas na amplidão,
E sente como mãe pulsar o coração.
Vê um hidro-avião beijando as águas,
Quase a apagar-lhe do peito as densas mágoas.
Aproxima-se da praia e vê descer,
Um jovem sacerdote e sem o conhecer, lhe diz:
-Senhor, vieste do campo de batalha?
Não viste meu filho Henrique ao pé de uma metralha?
Anseio por ver meu filho que a pátria foi salvar.
Eu desejava vê-lo ministro do Senhor, ministro do altar.
Ele segura o braço da mãe estremecido
E a faz levantar.
Abraça-a com carinho e diz-lhe com ternura
Sou eu teu filho Henrique
Ministro do Senhor, ministro do altar.